Foto: Isabela Figueiredo
Depois do grande sucesso do espetáculo Decalque, o qual eu próprio fui assistir 6 vezes, o Ballet de Londrina irá estreiar seu novo espetáculo, Para acordar os Homens e adormecer...
Para acordar os Homens e adormecer
Esse projeto do Ballet de Londrina começou e foi concluído como um fruto do acaso. Começamos de outro ponto de partida, iríamos tratar do ócio, da vadiagem, de curtir a vida simplesmente. Mas parece que os caminhos de uma obra não são controláveis. Um ballet tem vida por si só e ele mesmo determina seus próprios caminhos.
Daí acabamos aqui no dia a dia de hoje, tentando entender um pouquinho mais o que somos e o que nos faz ser assim, sem rumo, ocos, perdidos, inertes, mas esperançosos de um tempo que sempre está por vir e crentes nele estamos aguardando, mesmo que seja depois da morte, cremos em um momento melhor, mais leve, menos vazio.
Essa uma hora de espetáculo tenta ser como morfina para a dor, lisérgico, uma droga que ajude a passar essa hora em um tempo que só existe na breve precariedade de um espetáculo, no real da ficção, da arte.
Criamos essa dança no oco, no vão entre algumas coisas do mundo. “Nunca”, “Eternamente” e “Fome”, espetáculos montados respectivamente em 2001, 2002 e 2003, estão presentes e retomados como material de trabalho, mas aqui cheios de esperança e num formato de criação bem mais maduro e consistente. A música é um presente também do acaso, veio parar nas mãos quase como um milagre, um milagre do nosso tempo onde muita informação está disponível, mas é difícil obtê-la pela desordem do mundo virtual. Temos que estar alertas para as oportunidades.
Há grande desafio para nós, do Ballet de Londrina, sair do Decalque, nosso último espetáculo, hoje uma marca, quase uma técnica de trabalho.
O sucesso daquele projeto foi enorme, seria um caminho fácil tentar repetir a fórmula, mas é impossível. Decalque se conclui em si mesmo, não permite continuação, ele ficou pronto e isso o encerra.
As dificuldades de manter e desenvolver um projeto artístico são, na verdade, a matéria que leva a criação, dolorosa, mas rica. Nesse caminhar assim aconteceu. Angustiados procuramos a mudança que todos nós esperamos apontar para o novo. (Ballet de Londrina, 2009).
Foto: Isabela Figueiredo
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