A Fila de 2009: Parcerias na Fila

domingo, 7 de junho de 2009

Parcerias na Fila

O jornalista Gionvanni Nobile publicou em seu blog, uma crítica ao espetáculo "A Noite dos Palhaços Mudos". Colocaremos ela aqui na íntegra e agradecemos a parceria firmada com o blog Press Tensão.

Qual é o meu nariz de palhaço?

O que acontece ao palhaço que perde o nariz? Perde sua personalidade, sua identidade, sua vida? Luta para recuperar sua razão de existir? Leva a situação na comédia, por ser inteligente, em vez de chorar com a tragédia, pelo que sentiria por tal perda?
O espetáculo de estreia do Festival Internacional de Londrina – Filo - ‘A noite dos palhaços mudos’, adaptada da história original do cartunista Laerte, dá respostas às questões acima com muita metáfora.
O elenco da Cia. La Mínima, de São Paulo, SP, formado por Domingos Montagner, Fernando Sampaio e Fabio Espósito – os dois primeiros premiados neste ano com o Prêmio Shell de melhores atores –, dirigidos por Álvaro Assad, encenou às 20h30 da noite de ontem, dia 5 de junho, no Teatro Ouro Verde, no centro de Londrina, PR, a história de palhaços mudos perseguidos por uma organização anti-palhaços.
“No palco, dois atores interpretam palhaços que tentam salvar o nariz de um deles, mutilado por um grupo de homens que pretende eliminar todos os palhaços do mundo”. Assim, como diz a sinopse da peça no endereço eletrônico do Filo, acontece a peça.
O terceiro ator – aquele que não é o palhaço, mas, sim, um certo líder deste grupo de homens que quer acabar com os palhaços – é um careca, de terno com cara de mal. Ironicamente é este o responsável pelos momentos de risos. Os palhaços, pelos momentos de sorrisos.
São leves, como a vida deve ser.
A história de Laerte – da época da ditadura – ainda é atual. Porém, hoje, as ditaduras são outras, mais veladas. É econômica, social, que transforma seres comuns em seres invisíveis. É a ditadura tecnológica que tem a capacidade de substituir a convivência pessoal e arrancar o nariz de palhaço, a razão de ser, das pessoas. É a rotina, o cotidiano corrido, a falta de dinheiro e oportunidades.

Retrato leve de uma vida dura: infelizmente, como às vezes é.

Imagens: divulgação - Filo

Pelo nariz do palhaço, o mutilado e seu amigo enfrentam o perigo, colocam-se em situações extremas, nas quais a vida corre risco. Mas qual é o risco maior? Morrer, ou viver sem seu nariz de palhaço? Sem sua razão de existir?
E qual é a razão de existir?
Sorrir.
É assim, sorrindo, que se sai do espetáculo, depois de sentir que temos nosso nariz de palhaço em algum canto, por aí. Às vezes, já o perdemos, mas acordamos a tempo de correr para recuperá-lo. Ou, então, sentimos que ainda possuímos nosso nariz de palhaço.
Quem viu espetáculos grandiosos em Filo passados, com grandes cenários ou coisa parecida, teve a oportunidade de ter contato com uma peça simples.
Numa matéria da Folha 2 da Folha de Londrina desta sexta-feira, uma frase de um dos atores da peça resumiu o que é a montagem deste espetáculo:
- Ser simples não significa ser fácil.
Simplicidade em cena mostrando que a simplicidade talvez seja o melhor caminho que leve ao sorriso leve.
Simplicidade como tocar a campainha na casa do vizinho e sair correndo. Voltar a ser criança no dia-a-dia e não deixar que as ditaduras veladas atuais tomem conta e arranquem seu nariz fora.
Simplicidade e boas companhias: bons caminhos que levam ao sorriso, daqueles que se sorri com os olhos e o coração.
Filo 2009, este foi só o começo.


[...] Deixa eu brincar de ser feliz, deixa eu pintar o meu nariz...” em ‘Todo carnaval tem seu fim’, de Marcelo Camelo

Por Giovanni Nobile
www.presstensao.blogspot.com

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